"Não matem a criança! Deem-na à
primeira mulher. Ela é a mãe".
1 Reis 3.16-28
Um
pouco antes de começar a escrever este texto, via pela televisão um programa em
que aparecia uma cena real onde um criminoso entrou em confronto com um policial.
Depois que ele foi totalmente dominado, de joelhos e com a mão na cabeça,
percebeu sua situação e gritou “Mãe!!!”. No fundo, ele sabia que sua mãe não poderia
fazer nada por ele; mas ele sabia que, se ela pudesse, ela faria; sabia, pelo
menos, que, embora ela pudesse não concordar com ele, continuaria ao seu lado e
o amaria até o fim!
Depois
do amor de Deus por nós, certamente o amor materno é a maior expressão do amor
que podemos testemunhar (Isaías 49.15). Talvez porque seja o que mais se
assemelha ao amor que Deus tem por seus filhos. É um amor doador, capaz de
renunciar seu próprio bem em prol do objeto do seu amor. É um amor que, de
fato, “Tudo sofre, tudo crê, tudo espera,
tudo suporta” (1Coríntios 13:7).
O
que vemos no famoso episódio relatado no livro dos Reis é uma mulher lutando
pelo seu filho, que lhe fora tirado durante a noite por outra mulher que matara
inadvertidamente o próprio filho ao deitar-se sobre ele. Ela não tinha como
provar diante do Rei Salomão que falava a verdade. O fato de ser prostituta não
permitia que a sociedade desse crédito ao que ela falava; e também não tinha
testemunhas para ficarem ao lado dela, ou seja, objetivamente, ela não tinha
nada.
Mas,
perante dela, estava um Rei que se colocara diante do Senhor em oração e pedira
sabedoria! Ele sabia que existia mais um elemento capaz de provar quem era mãe
de verdade, um elemento que não podia ser trazido à luz a partir do mero
depoimento ; não sem o risco de poder ser vencido por uma representação enganosa. O elemento que determinaria quem era a mãe era o
amor e, ao ordenar que partissem a criança ao meio, Salomão pretendia saber
quem, de fato, amava a criança. No caso relatado, o amor verdadeiro denunciou
quem era a genitora.
Mas
eu gostaria de colocar uma questão: A outra mulher, notoriamente, não amara nem
o filho que perdera tempos antes, quanto mais o bebê que estava vivo. Digo isso
porque uma mulher que um dia teve o privilégio de sentir o amor materno jamais deveria
querer o mal de criança alguma. Então, por que ela lutava pela criança? Penso
que pela possibilidade de ser respeitada pela sociedade, o nascimento de uma
criança era um sinal notório da benção de Deus, e o desprezo que a sociedade
tinha por ela certamente diminuiria quando a vissem portar seu bebê no colo;
também um filho era, por assim dizer, a
“aposentadoria” de uma mulher idosa, que não podia mais trabalhar. Ela só
estava pensando nela mesma e, ao meu ver, ao se contentar com a execução da
criança, ela estava dando a última cartada, para que no futuro a sociedade
pudesse apiedar-se de sua triste história de ter tido seu filho ainda um bebê sendo
executado pelo próprio Rei.
A
atitude de Salomão teve o propósito de identificar quem amava e, na situação
relatada, a genitora era quem amava de verdade. Mas sabemos que nem sempre é
isso que acontece, não é verdade? As Escrituras relatam situações em que o amor
materno ficou em segundo lugar, como no terrível episódio encontrado em 2 Reis
6.28-29. Ali o amor não conseguiu vencer a ferocidade da fome.
Vamos
supor que as duas mulheres tivessem encontrado juntas um bebê abandonado e
resolvessem lutar por ele diante do Rei, o artifício usado por Salomão não
conseguiria identificar a genitora, mas determinaria a mãe verdadeira, porque a
mãe verdadeira era aquela que estava disposta a renunciar o respeito da
sociedade e os cuidados futuros de um filho adulto em prol da manutenção da
vida daquele que, mesmo sem ter gerado,
amava profundamente.
O
leitores podem pensar que estou fugindo do texto, mas não estou. Estou convencido
de que o propósito de Salomão era saber quem, de fato, amava a criança e ele
descobriu. Ele descobriu quem era a mãe de verdade, porque a mãe “de verdade” é
aquela que ama de verdade!
Ordinariamente,
esse amor intenso é dado àquela que gera, mas nem sempre acontece assim.
Existem mães que nunca geraram e, diante de Deus, são mães do mesmo jeito;
existem mães que nunca tiveram as dores do parto; mas, ao cuidar dos filhos que
chegaram aos seus braços de outra maneira, sentem a dor de ver o filho com
febre, sentem a dor de ver seu filho sofrendo por causa dos mais diversos
motivos; também sentem a alegria de ser o instrumento de Deus para o
crescimento de seus filhos, alegria de vê-los indo para escola, de vê-los
formando uma nova família, de vê-los ao redor da mesa do jantar e brincando no
quintal; e também o privilégio de saber que, quando seu filhos estiverem em
apuros, não vão gritar “socorro”, não vão gritar nenhuma outra palavra senão
“MÃE”.
Que
Deus abençoe as “Mães Verdadeiras”
Nenhum comentário:
Postar um comentário