Lembro-me que quando o Senhor Jesus me
salvou logo me deu uma vontade muito grande de conhecer as Doutrinas da Igreja.
Pedi a um amigo seminarista que me indicasse um livro que tivesse as doutrinas
da Bíblia e ele me indicou um livro de Teologia Sistemática de Louis Berkhof
muito conhecido dos seminários presbiterianos. É isso mesmo! depois da Bíblia,
um dos meus primeiros livros cristãos foi logo um livro de Teologia
Sistemática. Com um pouco mais de um ano de conversão eu já estava familiarizado expressões como “Supralapsarianismo”, “prémilenismo dispensacionalista” e
coisas deste tipo.
O problema foi que muita teologia e
pouca oração fez de mim uma pessoa afeita a discussões teológicas. Vez por outra eu me via discutindo com
batistas sobre a forma de batismo, a doutrina das últimas coisas (o milênio
principalmente); e também discutia com os amigos da Assembleia de Deus sobre a
questão do batismo do Espírito Santo, dons de língua e etc. Reconheço que nem
sempre o meu prazer estava em defender a fé, mas em vencer as discussões! Com o
passar do tempo isso foi acabando e com a “maturidade” percebi que tais
discussões eram tolas e sem sentido.
Por outro lado todo o movimento
evangélico estava mudando. O relativismo não mais permitia discussões
doutrinárias e o pluralismo fazia com que as pessoas cressem em tudo, até
naquelas coisas que não podiam coexistir, que eram contraditórias em si mesmas. O evangelicalismo brasileiro que a muito
tempo não tinha mais a vestes das igrejas históricas, já estava se despindo dos
trajes pentecostais e se cobrindo com a roupagem neopentecostal. Agora os evangélicos estavam crendo em tudo, um
paganismo disfarçado adentrou pelas portas das igrejas e tomou conta de tudo. A
relativização moral promovida pelo abandono das doutrinas bíblicas e pela
descrença de valores absolutos moldou e continua a moldar a maioria dos crentes
brasileiros. Hoje ninguém mais discute doutrina, porque doutrina não é
interessante. A Bíblia, que continua
batendo recordes de venda é lida só em suas notas de rodapé (para ajuda
financeira, saúde, autoajuda e etc).
Minha mente voltou ao passado, na
lembrança das discussões “Tolas” e as lágrimas me vieram aos olhos com saudades
daquela época. Não por causa das discussões em si, mas por aquilo que elas
representavam. Aquelas discussões apontavam para denominações que valorizavam
doutrinas conectadas a princípios bíblicos preciosos.
O que eu quero dizer é que aquelas
discussões sobre forma de batismo eram importantes porque as igrejas ainda
davam importância para a união espiritual do povo de Deus. Elas criam que
existia uma Igreja Visível, que o Rito de entrada nesta igreja era o batismo,
independente da forma. Presbiterianos,
batistas, metodistas, assembleianos, congregacionais e outros entendiam que
mais importante que o número de membros, era o membro em si, chamava-os de
irmãos porque passaram pelo batismo, foram recebido no corpo da igreja e o que
acontecesse com eles os atingiria também.
As discussões sobre milenismo,
pósmilenismo e amilenismos indicavam para aquelas igrejas que a volta do Senhor
Jesus era importante, e que a interpretação que davam a respeito do Seu retorno
demonstrava a expectativa. Eu, na minha “tolice”, podia dizer para um batista
ou assembleiano que quando Jesus voltasse a gente ia tirar a “prova dos nove”
para ver quem tinha razão. Mas o que estava por traz disso era que eu cria que
todos nós pela fé no mesmo Cristo estaríamos juntos depois da consumação de
todas as coisas, porque independente de nossas diferenças em questões
secundárias, eu os tinha como irmãos.
As discussões “tolas” sobre se o crente
deveria buscar o “Batismo” com o Espírito Santo ou o “Enchimento” do Espírito
demonstravam que a grande parte dos crentes que criam nessas coisas estavam, a
seu modo, buscando santidade, avivamento e capacitação para o serviço cristão. Sim
as igrejas queriam pregar o evangelho da melhor maneira possível, queriam ser
usadas por Deus, queriam ser submissas às Escrituras Sagradas, queriam comunhão
verdadeira, queriam que o Senhor Jesus voltasse logo. Sim as discussões eram
tolas, mas indicavam algo bom!
Hoje ninguém
discute mais! E eu me pergunto: Será que alcançamos a maturidade cristã de nos
firmarmos em questões essenciais e sermos tolerantes nas não essenciais? Eu
temo que a resposta seja “não”. Penso que as questões doutrinárias tão
importantes para a vida da igreja deixaram de ser importantes para a grande
maioria dos evangélicos. Comunhão, Santidade, Justificação, Parousia deixaram
de ser prioridades. Pergunto-me se a maioria dos crentes de hoje saberiam
responder “porque Cristo morreu em uma Cruz”.
Se não sabem, elas simplesmente não são salvas, por que esta não é uma
questão secundária, mas central, assim como a doutrina da Trindade, da
Ressurreição e outras. Se não cremos nelas, porque não as conhecemos, simplesmente
não existe cristianismo, e nas palavras do Apóstolo Paulo, “é vã a vossa fé, e
ainda permaneceis nos vossos pecados”. (1 Coríntios 15.17)
Não! não amadurecemos, por isso ainda sinto
saudades das “Tolas discussões” do passado!
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